Um programa de partnership é uma estratégia essencial que, entre suas vantagens, visa reter talentos em sua empresa, promovendo um ambiente de meritocracia e crescimento.
Se você já leu “Sonho Grande”, o livro de Cristiane Correa que narra a história de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, certamente compreendeu que parte fundamental do sucesso desse trio reside na busca incessante por pessoas talentosas. Elas estão dispostas a realizar grandes feitos, tanto por si mesmas quanto pela empresa.
A busca por talentos
Uma vez identificados esses talentos, é crucial investir neles e retê-los pelo tempo necessário para colher os frutos desse investimento. Essa filosofia foi repetidamente implementada nas diversas empresas que o trio liderou, incluindo o Banco Garantia e a Ambev.
Era comum contratar um jovem talento que, após um período de compromisso, resultados e trabalho árduo, assumia uma posição de destaque na empresa e se tornava sócio.
Cultivar o “sentimento de dono” nos colaboradores e criar a cultura de alcançar grandes objetivos na empresa pode ser importante para fomentar a competitividade saudável e manter os níveis de motivação altos.
A adoção de um programa de partnership pode ser o meio mais adequado para estabelecer essa cultura em sua empresa.
É evidente que a adesão ao programa deve ser uma escolha ponderada, alinhada ao contexto da sociedade. Esse é o caso, por exemplo, das startups, onde o modelo de partnership se adapta com mais facilidade em comparação aos modelos tradicionais de contratação, justamente pela dinâmica dessas empresas.
Enquanto uma empresa com administração mais tradicional deve reavaliar certos conceitos para implementar o plano, podendo enfrentar algumas dificuldades, é importante lembrar que se trata de um plano testado e aprovado por grandes players do mercado. Assim, o esforço pode valer a pena, desde que sócios e colaboradores estejam alinhados.
Neste artigo, explicaremos os principais pontos que uma sociedade deve considerar para constituir um programa de partnership eficiente e seguro.
1. O conceito e as vantagens do Partnership
O programa de partnership baseia-se em um modelo que promove colaboradores a sócios da empresa, oferecendo a eles a opção de comprar quotas ou ações, desde que cumpram requisitos específicos e entreguem resultados pré-definidos.
Esse modelo representa uma recompensa e um incentivo de longo prazo ao colaborador que dedica seu tempo ao crescimento da empresa. Além do reconhecimento, o programa de partnership funciona como um mecanismo de retenção de talentos.
Muitas vezes, ao contratar determinados colaboradores, a empresa investe em sua formação, seja por meio de recursos ou experiências, até o amadurecimento profissional do colaborador, apenas para perdê-lo para o mercado antes de colher os frutos desse investimento.
A possibilidade de integrar o quadro de sócios será um fator que certamente incentivará esses colaboradores a desenvolverem suas carreiras na empresa. Além da valorização das quotas, o colaborador com chance de se tornar sócio também se beneficiará da distribuição dos lucros da empresa.
Ademais, a repetição desse processo acabará estabelecendo um padrão de comportamento entre os colaboradores, fomentando uma cultura organizacional forte, com um ambiente competitivo que premia o mérito, sempre com regras claras.
2. O alinhamento de ideias entre os sócios
Para começar a estruturar um programa de partnership, o primeiro passo é alinhar as estratégias e expectativas entre os sócios.
Diversas questões devem ser discutidas, especialmente o percentual de participação societária que será disponibilizado aos colaboradores.
Aqui estão quatro pontos que os sócios devem analisar antes da implementação do programa:
- Os sócios estão dispostos a pulverizar o capital da sociedade?
- Os sócios prezam por um ambiente competitivo?
- Existem colaboradores aptos ao programa, com potencial para se tornarem sócios?
- Os sócios pretendem permanecer na sociedade ou têm planos de vendê-la no futuro?
Os sócios devem definir de forma estratégica o percentual da empresa que oferecerão aos colaboradores, conhecido como equity. Também precisam esclarecer se a participação deles será diluída ou se emitir novas quotas.
Outro aspecto importante é a previsão de metas que o colaborador precisará cumprir para adquirir quotas da empresa e se tornar sócio. É essencial que as metas estejam relacionadas ao desempenho da empresa, evitando riscos trabalhistas que podem surgir de uma estruturação inadequada.
Os sócios devem basear essas decisões em uma análise estratégica, buscando um consenso que torne o plano atrativo para os colaboradores, sem comprometer a governança da sociedade.
3. Alinhamento com o contrato social e o acordo de sócios
Uma vez definidas as regras do programa de partnership, é necessário que elas estejam alinhadas com o contrato social e com o acordo de sócios, registrados na Junta Comercial.
Na prática, o partnership poderá resultar na entrada de novos sócios, o que trará novas dinâmicas a diversas questões do cotidiano da empresa. Portanto, é imprescindível que todas essas ideias estejam alinhadas e previstas no contrato social e no acordo de sócios. Questões como o tipo de ação a ser ofertada, a mudança na dinâmica de deliberações e a distribuição de lucros precisam ser bem definidas.
4. Plano de opções de compra e venda
O último ponto na criação do plano de partnership é a adoção de um sistema eficiente de compra de opções por parte dos colaboradores que se tornarem sócios, que pode ser regulamentado por contratos ou cláusulas de opção de compra com um mecanismo de vesting.
Além disso, é essencial que o contrato preveja a recompra das ações em caso de desligamento do sócio.
Embora o programa de partnership ofereça vantagens que justifiquem sua longevidade, alguns sócios promovidos podem optar por sair da sociedade no futuro, seja por ofertas melhores ou por novas posições na carreira.
Nesse caso, é altamente recomendável que o contrato especifique como ocorrerá a saída (good leaver ou bad leaver), o cálculo do valor da empresa (valuation), entre outros aspectos.
5. Conclusão
Apesar de testado por grandes empresas, um programa de partnership, como qualquer outro, requer atenção a vários pontos.
Um aspecto que merece destaque é que esse modelo representa um rompimento com os modelos tradicionais de mercado (contratação celetista, prestação de serviços etc.), o que pode desinteressar alguns colaboradores, levando-os a optar por carreiras mais tradicionais e menos arriscadas. Afinal, tornar-se sócio implica não apenas em bônus, mas também em arcar com os ônus e riscos da operação.
Além disso, é claro que existem perfis de profissionais que se adaptam facilmente ao sistema meritocrático proposto pelo partnership, enquanto, por outro lado, outros se sentirão mais confortáveis em ambientes com menos pressão. Cabe ao empresário decidir com quais perfis de profissionais deseja trabalhar.
Outro ponto que requer atenção é a complexidade que um plano de partnership exige. Por isso, é indispensável que o empresário busque assessoria jurídica especializada, pois essa assessoria deve compreender o funcionamento desse modelo. Além disso, é fundamental alinhar as expectativas das pessoas envolvidas, o que proporciona segurança a sócios, colaboradores e, principalmente, à empresa.
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